sexta-feira, maio 31, 2013

por ti cometeria os pecados mais singulares III

o que resta de nós são poemas
a casa imersa em sílabas
este céu plácido de silêncios
nenhum, nenhuma
nada mais somos do que não fomos
o que resta de nós são poemas
a escrita impura das ausências

quinta-feira, maio 30, 2013

au loin la mer

vivo este desconhecimento vasto
de mim pouco ou nada sei
mas persigo a rota do girassol
comigo: não sei se consigo

terça-feira, maio 28, 2013

porque o coração queria ser Piva e Orides II

Quando o pássaro acordou
Não havia canto nem voo
No céu a nuvem distraída
Desdenhava as suas asas

segunda-feira, maio 27, 2013

um passarinho pousou sobre mim o seu silêncio

(ando embebido na lágrima de uma ausência)

sexta-feira, maio 24, 2013

por ti cometeria os pecados mais singulares II


eu vou ficar esperando pelo cigarro
pela última estrela
pelo latido aflito dos cães
pelos poemas que não foram escritos
pela caligrafia rasgada de nomes
eu vou ficar esperando
por um nada, um vazio, um caos
até o peito explodir como uma galáxia

quarta-feira, maio 22, 2013

Fragmento desperto para remendo em corda de violão


Teus olhos plangiam
Era assim que te via
Quando noite era dia

terça-feira, maio 21, 2013

Canção para despertar arrebóis


Ela acordou tão plena de manhãs
Que os olhos não cabiam
De tanto alumbramento

segunda-feira, maio 20, 2013

por ti cometeria os pecados mais singulares


hoje não temo poemas
tenho tua ausência
a me ornar o silêncio

domingo, maio 19, 2013

sonata para uma gioconda em tessitura maior



não te chamarei musa
a delgada saliência da pele
tampouco te nomearei flor
esses equinócios do teu olhar
só sei que de ti habito equívocos
nenhum sortilégio de algas ou mapas
apenas a tonta reminiscência do lilás
esta ausência em chamariz
incendiando o meu peito gris


sábado, maio 18, 2013

fragmento para uma ausência (esta)


meu pouso é outro lugar
aquele onde não existo
mas descanso meu corpo

2 histórias


1 história ou a outra história

ela era deliciosa e tinha uma tatuagem bem no bumbum. Quando perguntei, ela respondeu: é um beija-frô! eu me apaixonei no ato!


1 história ou quiçá a história

De segunda a quinta ele ficava em casa, quase não nos falávamos. Ele tão solitário. Sexta saía, voltava embriagado e cheio de amor. Sábado ele não voltava para casa. No domingo eu ia buscá-lo perdido com os amigos boêmios. Na segunda a gente recomeçava, A gente sempre recomeçava, tão sozinhos.


1 metaplagio (com o perdão de quintana)


esses que estão aí
povoando de azar meu caminho
eles passarão
eu continuarei solzinho

ouço a voz que vem do silêncio


quando estou contigo
é quando mais
dentro de mim me sinto

sexta-feira, maio 17, 2013

Canção para véspera do branco e das mãos


No dia que cheguei de tantos caminhos
Teu corpo era um porto de alvíssaras
Nós que muito já nos havíamos
Tu me trazias o espelho de várias sílabas
Eu me tinha em avessos de estrelas
Nos nossos passos pousaram pássaros
E nos despimos na interrogação dos dias
Feito sonho cravado na pupila do outono

quarta-feira, maio 15, 2013

fragmento para pequenas solidões II


tem um silêncio
que castiga
os meus olvidos
incessante
incessante

terça-feira, maio 14, 2013

Canção de rio para nuvem e pretérito


O papo era sobre poesia
ela me falava em astrolábios
a gente ali sob o céu
tão juntinhos, tão perto
no vento de uns suspiros
o coração em folguedos
então ela virou-se
a contemplar o horizonte
eu nunca mais esqueci
o perder de olhos no orbe
o espanto naquela silhueta
tinha visgo de eternidade

segunda-feira, maio 13, 2013

Ária de sagração para pedra, flor e água


Não guardo nenhuma intempérie
Nem mesmo raios que ora me habitam
Atravessam a silhueta deste ubíquo olhar
Nada me alcança em tormenta

Venho desde muito longe
Até o mar submergir as palavras
Como uma pedra desnuda
E uma flor sem mágoa

sábado, maio 11, 2013

”La Cabane de Baba-Yaga sur des Pattes de Poule”


do sonho de menino azul e profundo
a vida não poupou trégua
há o sol que incandesce os dias
como um helianto tresloucado
ninguém cabe na própria ausência


sexta-feira, maio 10, 2013

metaplagio de reverência ao soneto de camões


o amor é sede que não cessa
visgo que não aplaca
corre na veia
flui no pensamento
palpita no silêncio
não se recusa o seu intento

quinta-feira, maio 09, 2013

uma palavra vazia aguava a língua


aguardo a esfinge
que trará o enigma
que me tragará 

terça-feira, maio 07, 2013

fragmento para pequenas solidões


tão sozinho que
até ausências
o preenchiam

sábado, maio 04, 2013

Quase teu, quase prometeu


A tua ausência é esta ave
A bicar-me o fígado
Eu renasço em vazios

sexta-feira, maio 03, 2013

Metaplagio para canção da torre mais alta


De tão benfazejo o desejo
Cumpriu-se em caminho azul
De grata delicadeza o incenso
Cobriu-se no céu de imenso


(guardar retinas, pálpebras
a amurada de um sonho
que se desdobra em fímbrias
e beija as vestes da manhã)

Nos olhos nada a esquecer
Nenhuma promessa ou suspiro
Na sede que o corpo empenha
Na paz de um suntuoso retiro

quarta-feira, maio 01, 2013

metaplagio solícito para repouso de imensidão


Nesta noite em que cada noite
é noite dentro da noite.
Invadem-me as estrelas do teu rosto
e dos teus lábios astros a brilhar.
És o orbe, o universo.
O resto é o resto, é o resto dentro da noite,
desta noite que é noite dentro de outra noite.